542 mil mortes: o que nos comove?

(Photo by MARCIO JAMES / AFP)

Estamos em pouco mais da metade de julho de 2021 e já alcançamos a triste marca de 542.214 mortes oficiais por coronavírus no Brasil – e quase 20 milhões de pessoas infectadas pelo vírus nos 26 estados e no Distrito Federal. Foi como o prenúncio de um inverno longo e tenebroso para milhares de famílias brasileiras, que não sabem qual será o rumo daqui em diante, pois a pandemia se completa com seus reflexos na economia, já assolada antes por uma grave crise: mais 14% de desempregados – com os dados mostrando que temos mais gente desempregada do que aqueles efetivamente exercendo funções remuneradas.

Os dados frios como o período de inverno que se avizinha não trazem em si os sintomas e a realidade das famílias desestruturadas, a morte precoce de mais de 542 mil pessoas, o abandono, as necessidades de saneamento, a forma desigual como o vírus atinge camadas da população, uma vez que as áreas mais atingidas, e os estratos sociais mais vulneráveis são aqueles que contam mais vítimas da tragédia. Ou seja, os setores da sociedade que mais precisam de alguma atividade para seu sustento é justamente aquele mais atingido pela letalidade do vírus. A explicação é simples: sem ter a quem recorrer, e com medo de perder seus empregos e rendas, milhões de pessoas continuaram nas ruas, no trabalho e nas atividades essenciais, se expondo mais ao vírus, e expondo também seus familiares.

Desdém e abandono das políticas públicas – Não é segredo para ninguém que uma razões pelas quais o Brasil entrou numa espiral de crescimento e de descontrole da pandemia por contas de fatores políticos noticiados diariamente: o governo federal trata a pandemia com desdém desde o começo, fez e faz corpo mole para não adotar as medidas de mitigação dos efeitos econômicos e sociais do coronavírus e, no trato da questão de saúde, o país é o único do mundo que enfrenta o vírus sem ministro da Saúde e com o governo federal em guerra aberta – há meses – com autoridades estaduais e municipais. O Brasil está sem política efetiva de contenção da pandemia. Estamos, isso sim, no meio de uma guerra ideológica do atual governo contra organismos internacionais, agente internos da oposição, sucessivos boicotes do empresariado e de setores médios ao isolamento e falta de condições de atendimento ideias na maioria dos estados e municípios.

Esse quadro de calamidade faz do Brasil o centro da pandemia, com maior número de mortes por coronavírus em toda a América Latina. Nas Américas, o país só perde em número de óbitos para os EUA, embora ganhe no número maior de infectados diariamente. E se isola cada vez mais diante do mundo, que veta a presença de quaisquer pessoas que passaram ou passarem pelo Brasil nesse período.

Diante da catástrofe, que se amplia diariamente, fica a pergunta: o que nos comove como nação e como povo? Aparentemente, a explosão de mortes de infecções não mexeu muito com o humor médio dos nossos compatriotas, que aderem em massa ao discurso de “salvação da economia”, como repetem empresários, agentes do governo e do mercado financeiro.

Tem gente demais preocupada com a loja da esquina, com o shopping aberto, a academia funcionando, o comércio vendo, os jogos de futebol acontecendo e tantas outras coisas. E pouca gente olhando para a tragédia da perda de vidas que nos assola. E que não tem data para terminar, a julgar pelos números, pelas projeções de cientistas e pela realidade. Pouca coisa parece nos comover.

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