
A última semana do mês de julho e o começo de agosto, no inverno de 2021, estão sendo marcados por uma onda de frio considerada pelos meteorologistas como uma das mais intensas das últimas décadas no Brasil – mesmo em regiões tradicionalmente frias nessa época, como é o caso do Sul e do Sudeste do país. No hemisfério Norte, os fenômenos climáticos extremos são caracterizados por enchentes que assolam diversos países europeus. Regiões da China experimentam os efeitos danosos de enchentes de grande porte em seus territórios.
Não se trata aqui de julgar o comportamento daqueles que observam os reflexos das massas de ar polar ou das ondas de calor e “se encantam” com os efeitos que produzem, principalmente a ‘friaca’, com o registro de neve nas regiões mais ao Sul. O que importa é tirarmos lições desse processo para reforçar a aprendizagem e a compreensão do comportamento do clima no nosso planeta diante das chamadas “mudanças climáticas”. Os estudos científicos sobre o tema são realizados há décadas, integram as preocupações de especialistas, climatologistas, ambientalistas, setores importantes da ONU e de outros organismos e, claro, de pessoas comuns ao redor do mundo.
E é exatamente entre pessoas – e demais seres vivos que compõem e vivem nos biomas – que se observam os efeitos desse comportamento e dessas mudanças, impulsionadas pela excessiva e deletéria interferência humana na exploração dos recursos naturais da Terra. A propósito, o meu livro infantil Quando os bichos perderam o sono aborda a temática de forma didática, com a intenção de servir de suporte à discussão inicial do assunto entre crianças. Procurei traduzir na história a complexidade dessas mudanças a partir da “insônia” de animais e crianças (ver aqui).
No cotidiano humano, as alterações climáticas são percebidas por meio de perdas de vidas, enchentes que destroem cidades, moradias, deixam milhares de pessoas ilhadas ou desabrigadas, sem condições de retorno ao trabalho e também provocam prejuízos econômicos, no campo e nas cidades de um modo geral.
O frio intenso, especificamente em cidades de grande e médio porte, age de forma ainda mais direta: cidadãos e cidadãs em situação de rua morrem aos milhares mundo afora, por hipotermia (queda acentuada da temperatura do corpo), em geral por falta de assistência governamental e insensibilidade social, dentre outros fatores. A neve, que é um momento de beleza e glamour para muitos, ocasiona a perda de vida de milhares.
Na mesma linha, enchentes, deslizamentos de terras, temperaturas elevadas e outras catástrofes sanitárias relacionadas ao mundo climático e da ocupação, exploração e uso do solo em nosso planeta causam fortes interferências e resultados dramáticos, que vemos quase todos os dias no noticiário.
Assim, grosso modo, não se comemora uma enchente que ocorre numa região somente porque esta fica a maior parte dos anos sob intensa estiagem. De certa maneira, não seria razoável ficarmos insensíveis ao que se passa com outros seres humanos, animais e demais formas de vida enquanto fazemos aquela ‘selfie’ ou brincamos com bonecos de neve.
Tudo tem seu peso e não se cobra um comportamento de quem quer que seja. Se incorporarmos a preocupação humanitária a tudo o que ocorre ao nosso redor, certamente já estaremos demonstrando evolução do pensamento, sem que seja necessário alguém patrulhar o que fazemos ou deixamos de fazer. O que importa, ao fim e ao cabo, é que não percamos de vista o aprendizado com esses fenômenos, que exigem de nós uma mudança de comportamento como seres que interagem com outras formas de vida no planeta, a nossa casa.