Da importância das coisas e das coisas importantes

TurboSquid/Reprodução

Muito já se disse sobre o processo pelo qual são estabelecidos os valores que nos levam a atribuir importância a algumas coisas e quase nenhuma a outro tanto. Isso é explicado em teorias, estudos e por variados campos das ciências do comportamento.

Na minha santa ignorância, apenas com a suposição filosófica forjada na observação pessoal, prefiro um caminho mais moderado na observação de tal fenômeno. Meu caminho aponta para algo mais simples do que um conjunto de teses filosóficas.

Indo direto ao assunto, percebo que o desejo de ser enganado permanentemente alimenta muitas das escolhas que fazemos. Na maioria das vezes, preferimos a aparência das coisas à difícil busca pela essência, aquela coisinha chata que abandonamos quase sempre pelo caminho.

Costumamos medir os outros e seu modo de ser pelo que já está estabelecido, e nem sempre pelo que estes têm a nos dizer ou nos demonstrar. Sem contar as escolhas físicas, os perfis e o que orienta a nossa aproximação com os outros – quase tudo se baseia em modelos, modos de ser e em padrões que nem sempre notamos de onde tiramos.

Quando entramos no campo da importância que damos aos bens que vamos amealhando ao longo da carreira profissional ou da vida, então os exemplos extrapolam muito do que já se disse em Sociologia ou em ciências afins. O carro, a casa, o terreno, o sítio, o emprego, o cartão de crédito – os sonhos de consumo que representam ou sugerem representar – aparecem em primeiro lugar na vida de 99,99% dos viventes que conhecemos, certamente.

Este é conjunto das coisas mais importantes no mundo contemporâneo. Mata-se, morre-se, vive-se e esfola-se qualquer um para que essas coisas sejam alcançadas. E mantidas. Vivemos o excesso de proteção do patrimônio e as forças de Estado não me deixam mentir quando se encontram voltadas, em sua grande maioria, para a preservação patrimonial.

Eis que num dado momento da vida as pessoas começam a perceber que tudo isso é importante, mas que a importância excessiva a essas coisas é não mais que uma aparência, pois tudo na vida termina um dia. Quem teima em continuar acreditando na maravilhosa aparência das coisas um dia acorda, e pode se ver num buraco. Esse buraco recebe o nome de depressão. Não é à toa que essa é a chamada doença da contemporaneidade.

Sorte de quem deseja continuar sendo enganado que o mundo é cheio de coisas, cores, modelos e estilos para maquiar todos os nossos desejos e escolhas pelas aparências. E as pessoas são as que mais se adaptam ao modelo das aparências.

Por último, uma dica: um trecho do documentário El Pepe, uma vida suprema (Netflix), que conta a vida do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica. Entremeando sua história política e pessoal, o filme traz tiradas filosóficas do homem que entrou para a história latino-americana e mundial como o político mais lúcido das últimas décadas.

Assista abaixo a passagem em que Mujica fala do tempo e da relação que deveríamos manter ao longo da vida com o dinheiro e os bens (compilado do site Quebrando o Tabu).

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