
O jornalista e cientista político Dermi Azevedo tem sua história ligada aos movimentos de Direitos Humanos, das minorias e da luta contra a tortura instaurada com a ditadura militar de 1964 – ele próprio uma vítima direta dos arbítrios do regime fardado, que também atingiu seu filho (na foto que ilustra este texto). Seu falecimento ocorreu no dia 1 deste mês em São Paulo.
Tive o prazer de aprender com ele ao trabalhar sob sua orientação no Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH), do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM-SP) e na Agência Ecumênica de Notícias (Agen), logo que cheguei a São Paulo, no início dos anos 1990. Uma figura serena, sempre preocupada em disseminar o senso de justiça e apoiar as lutas dos menos favorecidos, inclusive em outros países da América Latina.
Com história ligada às pastorais católicas, integrou os grupos de fundadores de importantes entidades e instituições de defesa de Direitos Humanos, dentre os quais o MHDH, o GTNM, a Agen e o Secretariado Oscar Romero – Brasil.
Compartilho, abaixo, principal trecho de uma matéria do portal Outras Palavras que refaz a trajetória de dignidade e luta pelas minorias e movimentos populares que Dermi Azevedo levará para a eternidade. E também deixará como lição de vida.
Dermi Azevedo, uma vida dedicada à justiça e dignidade
Morreu nesta quarta combativo jornalista e cientista político, ligado à defesa dos Direitos Humanos. Exemplo de resistência, ele viu o horror da ditadura: preso e torturado, teve filho de um ano também sadicamente seviciado pelos militares
Por Leonardo Wexell Severo, no Portal Vermelho
Exemplo de serenidade e abnegação em defesa dos direitos humanos, o jornalista e cientista político Dermi Azevedo, 72 anos, faleceu na manhã desta quarta-feira (1) no hospital do Ipiranga em São Paulo, vítima de um infarto fulminante. Ele convivia há anos com a Doença de Parkinson.
Nascido em 1949 no Jardim do Seridó, no Rio Grande do Norte, foi criado em Currais Novos, cidade que adotou como sua. Foi autor de reportagens na América Latina, África e Europa, tendo sido por duas vezes diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
Foi presidente do Diretório Acadêmico D. Hélder Câmara, da então Escola de Serviço Social de Natal. Em 1968, com outros líderes estudantis potiguares, participou do XXX Congresso da UNE, onde viveu sua primeira prisão política. Retornou a Natal e, diante da impossibilidade de permanecer em seu Estado, regressou ao Sudeste do país exilando-se depois no Chile em 1970 e 1971. Voltou ao Brasil e foi novamente preso em 1974, por duas vezes.
Em sua extensa trajetória, cobriu o Sinodo Mundial dos Bispos, no Vaticano, por ocasião dos 25 anos do Concílio Vaticano II. Foi um dos fundadores, em 1982, do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, do qual foi Secretário Nacional de Comunicação e Políticas Públicas. Foi fundador e primeiro presidente da Cooperativa dos Jornalistas de Natal, ex-presidente da Comissão Justiça e Paz, da Arquidiocese de Natal e ex-professor e Coordenador do Curso de Comunicação Social da Universidade Metodista de Piracicaba.
Sua vivência de tortura da ditadura está contada no documentário “Atordoado, eu permaneço atento”, filme vencedor da Mostra Provocações, uma das categorias competitivas do 8º Curta Brasília – Festival Internacional de Curta-Metragem. Veja abaixo.
A seguir, publico uma entrevista que concedi ao programa radiofônico Panorama 95, da Rádio Rural de Caicó (RN), à equipe dos jornalistas Geraldo Oliveira e Marcos Dantas, no qual falo da minha experiência de trabalho ao lado do jornalista e ativista Dermi Azevedo.