
O Brasil tem um deserto que cresce todos os dias. As mudanças climáticas alteram cada vez mais a configuração de áreas castigadas historicamente pelas longas estiagens, mas o processo pelo qual passa uma parte considerável do nosso território deveria preocupar as autoridades e assustar o país como um todo. Não é o que parece ocorrer.
Dados do relatório do Painel Intragovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, da ONU), de agosto deste ano, apontam que a região do Semiárido brasileiro passa por processo de desertificação numa área do tamanho do território da Inglaterra. O que conhecemos como Semiárido corresponde a parte do Nordeste e a região ao Norte do Estado de Minas Gerais. (veja matéria da BBC Brasil).
Quem conhece um pouco a história das longas secas que atingem o território nordestino sabe que o problema da estiagem não é novo – os registros são tão antigos quanto os relatos, as transformações e as experiências regionais que inspiraram e até hoje inspiram as criações literárias, do cinema e do teatro acerca dos flagelos. A despeito do que já se viveu e se sabe do ponto de vista científico, o fato é que a desertificação ora em curso passa por uma aceleração combinada a outros fatores ainda mais fortes: as mudanças climáticas, aos eventos extremos que produz e suas consequências.
O citado relatório do IPCC, por exemplo, mapeou que um único Estado nordestino, Alagoas, tem deserto em formação superior a um terço do seu território. A perda de qualidade do solo, da umidade e da capacidade de renovação ou cultivo atinge outras importantes áreas de todo o Semiárido. Vai muito além da histórica elevação das temperaturas e da falta de água para a sobrevivência humana ou atividades comerciais e industriais: tem a ver com as condições efetivas de habitabilidade de longa faixa do Nordeste e do Norte mineiro.
O que ocorre, por outro lado, é a aparente apatia de diversos órgãos governamentais diante do que toma conta de parte considerável do seu território e da sua gente. Equivale dizer que o Brasil assiste passivamente à perda de condições de vida digna em faixas de terras cada vez maiores, inclusive por negar a existência do problema central – as mudanças do clima – e não investir em tecnologia, pesquisa e ações de redução dos seus impactos para os habitantes da região, inclusive os de ordem econômica.