
Das produções da plataforma Netflix lançadas ainda em 2021, não restam dúvidas de que o filme A Filha Perdida se mantém até agora no topo das polêmicas sobre relacionamentos e promete não sair tão cedo das discussões levantadas pela obra original em livro, da escritora italiana Elena Ferrante. A questão central envolve temática espinhosa – e necessária: existem mulheres que “não suportam a maternidade”; ou “não estão preparadas” para essa carga; ou simplesmente optam por “viverem suas vidas”, “apesar de serem mães”. O fogo continua aceso e gerando muito bate-boca em redes e comentários de analistas, curiosos, curiosas, religiosos e palpiteiros de plantão.
O acerto da adaptação brilhante da diretora e roteirista Maggie Gyllenhaal começou com a escolha da atriz Olivia Colman para o papel desenhado por Ferrante para a personagem Leila Caruso. Seguiu e ganhou fôlego no cenário, nos diálogos e no tempero sarcástico e duro da mãe “cruel” – para os insatisfeitos e insatisfeitas – vivida por ela. Claro, o tema faz sucesso desde que a escritora italiana colocou mulheres como protagonistas de suas obras, cujo centro é a região de Nápoles. O outro ponto forte do filme é a fidelidade ao livro, feita de forma espantosa e detalhista por Gyllenhaal.
O centro nervoso está num roteiro que se destina a praticamente todas as mulheres: o “desejo natural” da maternidade e as cobranças que isso acarreta. Vai uma mulher falar, em determinados meios – principalmente na família e na igreja, em ambientes ditos ‘conservadores’ – que simplesmente não tem propensão, não deseja ser mãe e, se for, não será “mãe 24 horas”. Para apimentar ainda mais, e ganhar bônus gigantescos de antipatia, bastaria acrescentar que vai ser mãe, “mas primeiro vai viver sua vida”.
As pessoas e instituições sociais que alimentam a falsa polêmica do “instinto maternal” carregam nas tintas porque sentem esse desejo de controle sobre o corpo e a vida da mulher. Ninguém precisa ser defensor ou defensora de qualquer tese do movimento feminista – e nem precisa ser mulher – para entender que houve uma mudança de paradigma da condição feminina. E para melhor, bom destacar, a despeito de ser comum grande número de mulheres permanecerem fiéis ao tal princípio da “maternidade”, como um direito de expressão sobre sua existência e a condição escolhida para tal. Ninguém pode, e isso o filme e o livro deixam muito claro, determinar a maternidade como uma obrigação.
As pessoas são felizes sendo mães, pais, avós, avôs etc? Com certeza. Isso não impede que pessoas sejam felizes por terem resolvido não abraçar a maternidade (ou a paternidade). E também por resolverem ser mães ou pais e, ao mesmo tempo, terem suas vidas pessoais com o mínimo de “preservação”. Que é o que faz a personagem Leda quando se isola na Grécia para viver um tempo longe das filhas. A obra também alinhava os pressupostos da decisão dela em relação ao seu projeto de vida naqueles dias.
Talvez o que irrite quem vê o filme seja o modo como Olivia Colman se encaixou na personagem de Elena Ferrante: convincente, cruel, segura de si, angustiada e em busca de uma vida comum que todo mundo gostaria de ter, sendo pai ou sendo mãe.
Como ficou claro, a intenção deste artigo foi simplesmente aumentar a fogueira das discussões sobre o filme, o livro e a postura de muita gente acerca do tema.
Afinal, quanto mais as redes incendeiam, mais precisam de reflexões que levem as chamam para outro patamar. Achem bom ou ruim. Vejam o filme e comentem!
Vejo mães estressadas, faltando dizer que o filho é insuportável. Pobre da criança com 2/3 aninhos,que atrapalha os planos dessa mãe,que não importa com conselhos de nutricionistas e dá o que for mais fácil pra criança comer,quer delegar à escola a educação que virá por milagre. Que ignora o filho que quer brincar, porque está no celular. E outras coisas mais. Poucas mulheres deveriam ser mães.
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Olá, boas observações! Obrigado pela interação!
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