
Ilustração do Bioma Amazônico com terras indígenas fotografadas por Sebastião Salgado/Reprodução
O premiado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado reuniu sete anos de trabalho em diferentes pontos do Bioma Amazônico brasileiro para montar a exposição Amazônia, em cartaz até 31 de julho deste ano no Sesc Pompeia, em São Paulo (veja programação aqui). Com curadoria de Lélia Wanick Salgado, a mostra traz 205 fotografias inéditas no Brasil, correspondendo a viagens feitas por ele e sua equipe a 12 terras indígenas na região. As viagens que resultaram neste trabalho do artista servem também como um ‘grito’ de diversos povos originários em busca de sobrevivência, cujas comunidades vivem sob intenso ataque de ruralistas, garimpeiros, exploradores, madeireiros e aventureiros, tendo estes o apoio velado de instituições federais que deveriam proteger o meio ambiente.
O trabalho fotográfico com a marca e o esmero de Sebastião Salgado reflete seu compromisso ideológico e se materializa numa espécie de relatório visual que denuncia as tentativas dos vários grupos de explorar de forma predatória as riquezas do bioma amazônico, notadamente nos territórios indígenas. A beleza por trás de fotos de figuras humanas, paisagens, rios, matas, florestas densas revela esse propósito de devastação que os arautos da “exploração intensiva” não escondem de ninguém. São fartas as reportagens, declarações e ações governamentais que incentivam a mineração em territórios indígenas e a destruição de áreas imensas da Amazônia brasileira. Entram no rol os rios, a fauna e a flora, vistos como meros ‘adornos naturais’ por quem patrocina essas expedições – até hoje sob fraca vigilância e ação de organismos de Estado como o Ministério Público Federal (MPF) e a própria Polícia Federal.
As lentes de Salgado passeiam pelos ‘rios voadores’ no território amazônico, cuja estrutura é única e frágil diante do avanço desenfreado das máquinas, dragas, barcaças e equipamentos de exploração mineral e de desmatamento que todos os dias se espalham por alguma das áreas visitadas por ele. Além disso, é notório o risco para comunidades isoladas naquele território, algo que as fotografias e palestras feitas por ele no país denunciam fartamente.
Não se trata apenas de arte, e sim de mostrar como o Brasil corre o risco de perder importantes porções da maior floresta tropical do mundo rapidamente, enquanto grupos inteiros de indígenas são atacados e correm sérios riscos à sua existência.
HISTÓRICO – Sebastião Salgado tem um longo histórico de produções de grande envergadura, o que resultou em exposições de trabalhos ao redor do mundo – a maioria também transformada em livros -, tais como Outras Américas (1986), Êxodos (2000) e Gênesis (2013). A produção atual, portanto, coroa décadas de atividades fotográficas no Brasil e em diversos países, sempre com foco na condição humana, na denúncia das condições precárias de sobrevivência de povos tradicionais ou mesmo como uma forma de pregar a necessidade de preservação de importantes biomas do planeta.