Francis Wolff e o amor no carrossel da Filosofia

Filósofo, escritor e professor francês Francis Wolff/Divulgação

O amor pode significar tantas coisas ao mesmo tempo que parece impossível esse sentimento ser capturado pelo pensamento filosófico. Coube ao filósofo, escritor e professor francês Francis Wolff a ingrata – e saborosa – tarefa de sacolejar os pensamentos ligados às manifestações ditas amorosas com a publicação de um pequeno livro intitulado Não existe amor perfeito (Edições Sesc, 2018). A melhor parte ficou para o final do livro, que eu deixo para quem ficar curioso se surpreender.

Wolff tem larga experiência no universo da Filosofia, com titulações em seu país de origem e passagens pela Universidade de São Paulo, dentre outras instituições prestigiosas mundo afora. Bagagem de sobra e, mesmo assim, o pensador toma uma rasteira atrás da outra quando resolve dissecar o que seria o amor – ou os amores. Difícil para ele e para qualquer leigo como eu e você unir tantas coisas que, a rigor, não foram feitas exatamente com o propósito da união e dos sentimentos nobres.

Afinal, amar – uma das práticas ligadas ao sentimento amoroso – pode ser poesia, dor, malícia, sexo, desejo, paixão, atração, pura imaginação, mera admiração, tristeza, morte, alegrias, desespero, aperto no peito, saudade e uma infinidade de coisas. Ele, em busca de mecanismos mais plausíveis para dissertar sobre esses componentes tão diversos, lança mão de pelo menos três coisas que seriam o triângulo do amor: a paixão, o desejo e a amizade. Por experiência com o vaivém da ciência-mãe do pensamento, Wolff cuida de adiantar ao seu leitor que não existe um amor, mas amores.

Na tentativa de fazer girar o carrossel do amor, o professor Francis Wolff se detém em cada uma das múltiplas facetas das três coisas que não deveriam faltar na composição sentimental que é cantada em prosa, verso, dá em casamentos, separações, crimes, paixões tresloucadas ou arrependimentos profundos, com doses de decepção, momentos de alegria e descobertas. Tudo é relativo, como é próprio do modo humano de encarar as relações. Nada termina como começa. E nenhuma coisa que se apresente como “amor puro” ou “amor perfeito” pode dar certo. E, claro, questiona-se o que seria “certo” e “errado” também no amor.

No caso especificamente brasileiro, temos uma profusão de elementos musicais que exploram o amor: o sertanejo, o brega, a música romântica, a poesia (esta, por óbvio, universal, como a música) e todas as bases do pensamento sentimental clássico no qual nos formamos como sociedade. Mesmo que pensar o amor seja algo natural em qualquer agrupamento humano, é possível encontrar características específicas em cada cultura, em determinados tempos e modelos sociais. E isso muda, como tudo muda no comportamento humano, para o “bem” ou para o “mal” (e abre novas picadas para o filósofo se embrenhar). E nem a música dá conta de um milímetro dos mecanismos regidos, ou não, pelos ditames do coração, da paixão, da loucura e do desejo. Parece realmente algo que não tem fim. E não deve ter mesmo. Pelo menos no campo filosófico. É isso que o autor faz.

A obra tem a capacidade de instigar o leitor para esses descaminhos, sempre apontando para desacertos no tocante aos destinos dos amigos, dos apaixonados e dos amantes. São tantos os devaneios e problemas que é melhor concordar de cara com o título do livro, isto é, que realmente não existe amor perfeito.

Como disse no começo, o final do livro é que nos pega pelo pé, pois o professor chega a uma curiosa conclusão. A ver. A ler.

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