
O sonho de infância do bilionário Jeff Bezos foi realizado no dia em que o mundo celebrava os 52 anos do primeiro pouso do homem na Lua. No mesmo dia, a ONU anunciava que o mundo ultrapassara o número de 811 milhões de pessoas passando fome ao redor do mundo. E o que uma coisa tem a ver com a outra? Adiante se falará sobre. Vamos ao sonho.
Bezos, o fundador da Amazon e um dos homens mais ricos do planeta, viajou ao espaço acompanhado do irmão, de um jovem estudante holandês e de uma experiente aviadora. A viagem, que durou apenas 11 minutos – entre a decolagem do foguete reutilizável New Shepard e o e a volta da engenhoca e dos tripulantes ao solo-, foi feita a bordo da cápsula “Blue Origin”, que leva o nome da empresa de viagens espaciais criada 21 anos atrás pelo bilionário norte-americano.
Excêntrico, Jeff Bezos confessou que gostaria de realizar outro sonho dos tempos de criança, que culminaria com a criação de uma “colônia espacial”, como se fosse uma “Disneylândia sideral” – com hotéis e brinquedos no universo além da atmosfera. No caso do primeiro sonho realizado, a Bluen Origin já consumiu cerca de US$ 2,5 bilhões, fazendo parte de um mercado futuro das chamadas viagens espaciais disputado por grupos idênticos de outros bilionários como Elon Musk (dono da Space-X e da Tesla) e Richard Branson (da Virgin Galactic).
Toda essa movimentação dos novos senhores do espaço ocorre com o planeta em convulsão por conta dos efeitos da maior e mais grave pandemia já registrada na sua história: a Covid-19 já matou 4,14 milhões de pessoas (dados da data desta postagem) e tem os Estados Unidos e o Brasil como líderes mundiais em perdas humanas. Com um agravante: a Organização Mundial de Saúde (OMS), braço da ONU na questão de saúde ao recordo do mundo, informou recentemente que cerca de 1 bilhão de pessoas estavam sem acesso às vacinas.
Esse quadro de distorções – entre concentração de riquezas, realização de projetos pessoais e de negócios pelos homens mais ricos do mundo – contrasta com o avanço da fome e das doenças, principalmente nos continentes onde a pobreza ainda é a marca.
O orgulho dos avanços científicos, inclusive com o rápido desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus, não impede que se observe o quanto estamos atrasados em relação às questões humanitárias que envolvem vidas de bilhões de pessoas. São sonhos, ações, investimentos e projetos de poucos e necessidades básicas crescentes de uma maioria nos países pobres e mais atingidos pela pandemia e por seus problemas anteriores à sua eclosão.
O tema é parte de um dilema filosófico acerca do que pensam pessoas como Bezos, Musk ou Branson diante dessas urgências mundiais. Muito provavelmente, os três não dirão e não estariam interessados em dizer algo a esse respeito, pois devem considerar que seus projetos e atividades empresariais são estritamente do campo privado – que não envolveriam “dinheiro público”, embora isso seja uma meia verdade. A rigor, os caubóis do espaço do século XXI abocanharam contratos bilionários com a NASA, sem contar que são livres do pagamento de impostos por conta de leis que os beneficiam nos EUA.
Em suma, cada um com seu projeto e sua consciência. Este é o mundo onde uns pretendem chegar ao espaço, enquanto muitos querem sobreviver, ter um prato de comida e um lugar para morar. Aqui na Terra mesmo. No espaço, que fiquem os sonhos dos bilionários da nova era.
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