
Desde a primeira semana deste mês de outubro, moradores de diversas cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais estão apreensivos com eventos extremos que ocorrem e alteram a paisagem local: tempestades de areia, com ventos de mais de 100 km/h e mudanças bruscas de temperatura. A reportagem do Portal UOL (clique aqui para ler) mostra o fenômeno, com registro de mortes, caos no trânsito e detalhes sobre as regiões atingidas, além dos estragos provocados.
No mesmo período, a população da cidade de Roma tomou um susto ao ver dezenas de milhares de javalis tomando conta das ruas e avenidas da capital, num inusitado passeio entre carros e pessoas. Os animais saíram em busca de comida, possivelmente atraídos pelo excesso de lixo em logradouros da capital italiana. O país tem cerca de 2,3 milhões desses animais em seu território, segundo informou matéria da Rádio França Internacional – RFI (veja aqui).
Em junho deste ano, o site da BBC Brasil destacou a jornada de 500 elefantes atravessando cidades do sul da China. Segundo a publicação, o evento extremo começou ainda em 2020, com a manada passando por cidades, áreas rurais e se espalhando em meio ao trânsito – em busca de comida e água.
A movimentação dos paquidermes pelo território chinês paralisou rodovias, ampliou o caos em alguns lugares da Província de Yunan e mobilizou autoridades na tentativa de conter os estragos causados pelos animais. Ao final de quase um ano, eles começaram a voltar para casa (veja aqui a reportagem da BBC).
Já em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, a ocorrência curiosa diz respeito ao projeto – em execução – de “ampliação” da faixa de areia que, segundo a Prefeitura, teria sido “engolida pelo mar” nas últimas décadas. O detalhe é que não foi citada como mudança a ocupação desenfreada da orla pelas construções de arranha-céus que ‘escondem’ o sol e deixam a maior parte da área onde ficam os banhistas em completa escuridão ao longo do dia.
A alternativa encontrada pelas autoridades, especialistas e interessados em expandir atividades turísticas e comerciais no município do litoral catarinense é o inusitado processo de “alargamento” da faixa de areia, por meio de um espécie de aterro artificial de uma parte da praia para que se torne ‘maior’.
Os quatro exemplos acima fazem parte de eventos ocorridos no Brasil e no mundo nos últimos tempos. Todos guardam relação com intervenções humanas na natureza, realizadas durante as últimas décadas. As consequências, embora provoquem sustos e peguem ‘desavisados’ de surpresa, foram e são adiantadas há alguns anos por especialistas, climatologistas, ambientalistas e estudiosos das questões climáticas há algumas décadas. O estranhamento causado por muitos com o noticiário acerca desses eventos extremos ocorreu porque se imaginou – ou se acreditou erroneamente – que essas alterações seriam “eventos futuros”, quando já ocorrem – e passarão a ocorrer – com uma frequência cada vez maior no presente e num futuro próximo.
Divulgado em agosto deste ano, o mais recente relatório do Painel Intragovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) mostra que estamos em pleno colapso no tocante às alterações climáticas. Centenas de cientistas do mundo inteiro que estudam o modelo climático e foram responsáveis pelo novo relatório da ONU, indicam o agravamento da situação não mais para o “futuro”, como muitos grupos negacionistas insistiam em propagar, mas para o período atual.
A revista Galileu destacou, em matéria recente, 5 pontos trazidas pelo relatório do IPCC que mostram, de modo didático, essas questões centrais (veja aqui)
TEMA DO LIVRO – A propósito, um recorte desse processo de alterações climáticas compõe o meu livro infantil Quando os bichos perderam o sono, editado em dezembro de 2020 pelo selo Palhação Azul Editora. A obra traz na capa uma ilustração dessas alterações, algumas mostradas em reportagens que destaquei no início deste artigo. Ilustrado por Altemar Domingos, o livro narra as agruras dos animais, quando vitimadas por uma misteriosa perda do sono que ocorre em todo o planeta simultaneamente.
