Quem mora em cidades como São Paulo tem na ponta da língua situações corriqueiras de correria, trânsito caótico, falta de espaços de lazer em vários bairros e arborização deficiente em todas as regiões da metrópole.
A máxima que rege grandes aglomerados urbanos como a capital paulista é a da predominância dos espaços privados sobre os de caráter público.
O desafio de enfrentar essa regra foi imposto ainda no início dos anos 1980, numa área de grande valorização imobiliária da região central paulistana – que faz a ligação do Centro Velho com a região da Avenida Paulista: um trecho da Rua Augusta, precisamente em um terreno de 24,3 mil metros quadrados onde se encontravam resquícios de mata nativa e que, durante anos, foi objeto de intenso vaivém político e financeiro por parte de moradores do entorno, de sucessivos governos municipais e de construtoras e incorporadoras.
A ideia, simples e direta, era destinar a área para a construção de um parque público, que muito cedo ganhou o nome da outrora charmosa rua Augusta. As construtoras, claro, queriam erguer empreendimentos imobiliários, passando de rede hoteleira a torres de apartamentos.
Uma intensa mobilização de dezenas de coletivos e entidades de moradores e ativistas por mobilidade e qualidade de vida na região, com a adesão de pessoas de outras regiões da cidade, ganhou corpo e acabou vencendo a parada. A cidade de São Paulo ganhou, neste mês de novembro de 2021, o Parque Augusta, batizado também homenagem ao ex-prefeito Bruno Covas, morto em maio deste ano vítima de um câncer.
A ação comunitária que resultou na consolidação do projeto do Parque Augusta prova a capacidade de organização coletiva em busca de algo que uma cidade do porte de São Paulo carece cada vez mais: espaços onde a população possa descansar e praticar atividades de lazer ao ar livre. Vale lembrar que o ritmo acelerado de construções de prédios residenciais e comerciais é uma realidade, e que nem mesmo durante a pandemia houve qualquer sinal de que iria refluir. E segue em ritmo tresloucado com um projeto atrás do outro.
Trata-se, portanto, de uma vitória do interesse coletivo sobre os interesses privados, embora as construtores tenham se beneficiado ao abrir mão do terreno ao ‘cedê-lo’ para a construção do novo parque.
A cidade ganha e, com ela, a cidadania.