
Os sucessivos períodos de recolhimento impostos pela pandemia mexeram com a vida de todo mundo. Cada pessoa tem uma experiência própria – ou vivida em grupos reduzidos – para contar, seja de puro isolamento, distanciamento, trabalho ‘forçado’ pela condição ou natureza da atividade exercida ou a maneira como criou, ganhou a vida e aprendeu a realizar novas tarefas. Ou, ainda, realizar as mesmas coisas de outras maneiras.
Aproveito o momento para rememorar um acontecimento ocorrido ainda em 2020, em meados de setembro, quando me veio a ideia de escrever um terceiro livro infantil, meses antes de lançar, pela Palhação Azul Editora, a minha segunda obra, intitulada Quando os bichos perderam o sono. O desejo da escrita foi alimentado após assistir a uma animação meio tosca sobre um clássico das histórias infantis que faz uma releitura de Os Três Porquinhos.
Entre risadas e comentários, eis que me surge a intenção de retratar algo a respeito de algum personagem dos contos de fadas. Foi então que pensei na narrativa mais popular de todos os tempos: ninguém menos que Chapeuzinho Vermelho, uma história popular dos camponeses franceses que foi sendo mudada, recontada e adaptada ao longo dos últimos séculos – até ganhar duas versões escritas tidas como “definitivas”. A primeira, do francês Charles Perrault, de 1695, e a segunda dos contistas alemães Irmãos Grimm, de 1857.
Como já longamente estudado por especialistas, os contos de fadas, em suas versões originalmente criadas e espalhadas por meio da oralidade, nos encontros familiares ou nas noites em torno da fogueira, não eram destinados às crianças, inclusive pelo conteúdo nada infantil dessas histórias. Como bem assinalou em seu livro O lado sombrio dos contos de fadas, a pesquisadora e jornalista Karin Hueck (Editora Abril, 2016), as narrativas eram carregadas de morte, sangue, traições, violência e muitas mutilações, o que impedia sua popularização no meio infantil. Essa condição só surgiu quando essas histórias foram sendo recolhidas e recontadas – com muitas mudanças, ao longo do tempo – por contadores que as tornaram populares, inclusive lançando livros de grande sucesso, como o trio acima citado.
Voltando à minha escrita na pandemia, pela mera necessidade de manter a curiosidade até seu lançamento, falarei por cima do livro que deve sair até o Natal de 2021, cujo título é Chapeuzinho Vermelho volta à floresta. É, na verdade, uma releitura da história da personagem, na linha do que ficou conhecido pelas mãos dos Irmãos Grimm. Tem uma pegada no universo ambiental, mas se concentra numa faceta da psicologia de Chapeuzinho, ao tratar de uma vingança por ela empreendida.
A criação da história, que tem ilustrações de Altemar Domingos, foi uma forma de aproveitar o momento de recolhimento, de maior dedicação à leitura e a outros elementos culturais ao meu redor, além de buscar expressar um sentimento de construção de cidadania para futuras gerações – mesmo sendo uma modesta contribuição que pode vir por meio do livro infantil.
Agora é esperar pela publicação para entender melhor isso tudo que foi dito antes. Até lá!
Ler os artigos de Djair Galvão é um bálsamo ao nosso ego, além do “plus” Cultural.
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Muito obrigado, Marlene! Grato pelas palavras!
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